Aprendendo novos idiomas
Matéria por Ana Raquel Périco Mangili.
Veja casos reais e dicas de como a pessoa surda pode aprender outro idioma além da língua materna
Devido ao impacto que a surdez ocasiona na comunicação oral, um dos maiores desafios que as pessoas que convivem com essa realidade podem enfrentar é no aprendizado de uma segunda língua. Para aqueles que já nascem com uma deficiência auditiva, quanto maior o grau da perda auditiva e mais tardio for o início do processo de estimulação e reabilitação, também a aquisição da língua materna oral pode apresentar dificuldades.
Duas questões principais costumam entrar em cena quando uma pessoa com deficiência auditiva é exposta ao contato com um novo idioma: o acesso às frequências dos sons da fala e as habilidades cerebrais do processamento auditivo. A interação entre elas vai ajudar a determinar se a pessoa terá dificuldades ou não na aquisição do idioma, porém, como explica o otorrinolaringologista Dr. Luciano Moreira, médico do Hospital São Vicente de Paulo/RJ e chefe da Equipe Sonora, o peso que cada uma destas duas questões terá no processo como um todo varia de indivíduo para indivíduo.
“Pacientes que têm um resultado auditivo muito bom com seus AASI (Aparelhos de Amplificação Sonora Individual) ou Implantes Cocleares têm boa capacidade de ouvir os fonemas das diferentes línguas, o que propicia o correto aprendizado da pronúncia. Já para os pacientes em que a reabilitação auditiva não foi capaz de conferir-lhes acesso a todas as frequências dos sons da fala, vão apresentar grande dificuldade nesse aprendizado. Por outro lado, nós sabemos que a privação auditiva causada pela surdez pode alterar a capacidade do cérebro de processar a linguagem. Trata-se do ‘processamento auditivo central’. Nesses casos, essa alteração do processamento pode afetar tanto o desempenho na primeira língua, quanto no aprendizado de uma segunda ou terceira. Isso também pode acontecer em pacientes sem perda auditiva, e todos esses casos podem se beneficiar de terapias fonoaudiológicas específicas”, conta Dr. Luciano.
E quanto às crianças surdas, sobretudo as com perda auditiva pré-lingual (adquirida antes mesmo do indivíduo ter contato com a língua materna)? Hoje, é cada vez mais tendência que os pais e profissionais estimulem o aprendizado de mais de um idioma desde cedo para esses pequenos. “Existe um volume crescente de dados indicando que não há nenhuma contraindicação ao aprendizado de dois ou mais idiomas por crianças surdas pré-linguais devidamente reabilitadas. Tenho uma paciente implantada aos onze meses que hoje é fluente em dois idiomas. A teoria da ‘confusão linguística’ parece ser um mito, não havendo evidência científica nesse sentido. O importante é avaliar cada caso de forma individualizada, pois podem existir outras questões escolares, familiares e/ou cognitivas”, enfatiza Dr. Luciano Moreira.
O profissional também defende, particularmente, que a criança com deficiência auditiva seja estimulada para que aprenda mais de um idioma. “Em países como o Brasil, o aprendizado de uma segunda língua é um fator fundamental para a inserção no mercado de trabalho. Considerando as dificuldades que os indivíduos com surdez já enfrentam para estudar e trabalhar, seria um erro estimular a perda dessa valiosa ferramenta”, diz.
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