Os leitores do blog sabem que não discutimos língua de sinais porque não é a língua que usamos. Não defendemos nem atacamos.Mas quando nos deparamos com esse tipo de título jornalístico não podemos deixar de nos manifestar.
"Surdos querem escolas em que a Libras seja a primeira língua."
Leia a matéria abaixo.
Esse pessoal precisa entender que NÃO REPRESENTAM TODOS OS SURDOS DO BRASIL.
Sou surda, uso a língua portuguesa além de francês e espanhol e desconheço a língua de sinais. Então quando falarem de surdos têm que explicar que surdo é esse. Lutar contra implantes cocleares e aparelhos auditivos que nos permitam participar da sociedade global é um retrocesso. Quem teria coragem dizer que é contra a cura do câncer? Mas muitos acabam sendo contra o tratamento e a recuperação da pessoa surda.
Acabo de ler O Cemitério de Praga de Umberto Eco. E lembrei do enredo do livro em que a construção e divulgação de mentiras ou verdades parciais distorcidas, alardeadas e repetidas ao longo dos anos acabam se impondo como verdades incontestáveis...
No caso da surdez se difunde na sociedade a idéia de que toda pessoa surda se comunica usando língua de sinais, de que toda pessoa que não ouve faz parte de uma "comunidade surda e uma cultura surda".
Os que divulgam essa idéia acabam mesmo que involuntariamente difundindo preconceitos contra as pessoas surdas que procuram superar a surdez por meio de tratamentos, cirurgias, implantes, próteses auditivas , leitura orofacial (labial), tratamentos fono audiológicos e estudo da língua portuguesa.
Na internet circulam vídeos contra o TESTE DA ORELHINHA, implantes cocleares, etc e até charges onde os implantados balbuciam palavras ininteligíveis e os médicos aparecem com os bolsos transbordantes de dinheiro. Afirmam que o implante coclear vai acabar com a língua de sinais e por isso são contra o implante. Quanto ao fim da língua de sinais lembro que o Latim, o Grego clássico sobrevivem porque há pessoas que estudam e preservam. Não houve necessidade de manter povos falantes dessas línguas ( e como se poderia fazer isso?).
Lembro que nem todo surdo nasceu surdo, de pais surdos, vivendo em comunidades específicas. Na verdade muitas crianças surdas são filhas de pais ouvintes, outras nasceram ouvintes e perderam a audição por doenças na infância, outros ficaram surdos na adolescência e muitos idosos também perdem a audição. Como dizer que esse tipo de pessoa surda deve deixar de usar a língua dos pais, parentes e amigos e passar a usar uma língua de sinais? E estudarem em escolas separadas das outras crianças?
Existem textos de Projeto de Lei tão equivocados que pretendem obrigar tudo aluno deficiente auditivo a usar língua de sinais nas escolas. Provavelmente o senador que o redigiu desconhece a diversidade dentro da surdez e só conhece um MODELO DE SURDO GENÉRICO.
Minha conclusão: peço aos educadores, políticos e pessoas militantes em defesa da língua de sinais que não falem EM NOME DE TODOS OS SURDOS.
É uma falta de respeito porque toda vez que os surdos oralizados e os surdos usuários da lingua portuguesa se manifestam o fazemos explicitando nossa condição e não pretendemos falar em nome de TODOS OS SURDOS, SOMENTE DOS QUE COMPARTILHAM NOSSAS NECESSIDADES DE ACESSIBILIDADE.
LEIAM, REFLITAM E OPINEM.
Surdos querem Escolas em que a Libras seja a primeira língua
Escola Bilíngue para Surdos foi o tema da audiência pública que lotou o Teatro Dante Barone da Assembleia Legislativa na manhã desta segunda, 4, na plateia estavam educadores, professores e estudantes, que defendem um espaço em que a Língua Brasileira de Sinais (Libras) seja a primeira língua e o português escrito a segunda.
O deputado Carlos Gomes (PRB) foi o proponente da audiência, realizada pela Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Assembleia. Ele foi procurado pelo movimento nacional em defesa da educação e cultura surda, cuja principal entidade integrante é a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis). O parlamentar está preocupado com a dificuldade dos surdos de ingressarem e permanecerem na escola regular. “Me senti envergonhado por não entender a linguagem de sinais, mas vou me esforçar para aprender. Hoje, como estou minoria, consegui compreender como se sente um aluno surdo”, disse o parlamentar.
O diretor regional da Feneis, Francisco Eduardo da Rocha, defendeu mais integração entre as escolas para surdos no Estado. “Queremos saber o que está acontecendo, trocar experiências.” Segundo ele, não há uma política para essas instituições de ensino do RS. Ele comemorou a inclusão da representação dos surdos no Fórum Estadual de Educação, mas reivindica que a Secretaria da Educação crie um grupo de trabalho para levar as discussões adiante.
O papel da universidade e da pesquisa acadêmica, como fundamental para alimentar o debate político e a mobilização em prol da escola bilíngue, foi o aspecto trazido pela professora Adriana Thoma, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ela relatou que quando o surdo está entre alunos ouvintes e sem muitos recursos a evasão é enorme. Outra situação são os alunos nômades, que vão de cidade em cidade em busca de melhores condições de escolarização. Ela contou ainda a história de uma professora que atendia turmas regulares de Educação para Jovens e Adultos apenas uma vez por semana em três cidades diferentes. “Os alunos recebiam apenas uma fatia do conhecimento”.
A professora Patricia Rezende concentrou seu depoimento na crítica à política de inclusão que está sendo desenvolvida pelo Ministério da Educação. Ela acredita que é preciso valorizar a língua dos surdos. “Nas comunidades indígenas, o português também é a segunda língua". Ela é contra transformar as escolas bilíngues em centros de Atendimento Educacional Especializado (AEE) como o MEC estaria propondo. “A comunidade linguística tem direito de escolha de como será sua educação. É preciso contato para desenvolvimento linguístico e a partir da escola cria-se uma comunidade. Não é o governo que vai mandar que eu seja incluído ou não.”
Encaminhamentos
O deputado Carlos Gomes sistematizou as principais reivindicações e afirmou que vai levá-las ao governador Tarso Genro e ao seu secretariado. Confira os principais pontos: levantamento no número de surdos, como está o atendimento nas escolas, situação dos professores, níveis de evasão no Ensino Médio e Ensino para jovens e Adultos; grupo de trabalho temático para sistematizar discussões mundiais, no Brasil e no Estado; organização e normatização da educação para surdos; especificidade das crianças surdas; curso de Libras como parte obrigatória da formação de professores; políticas públicas de saúde; promoção de uma sociedade mais igualitária.
Olha pessoal, acho que quem não tem conhecimento sobre a realidade dos surdos no nosso país e principalmente em nossa cidade, deveria procurar se informar antes de comentar alguma coisa criticando a solicitação dos mesmos que é muito bem fundamentada. Só quem está diariamente em contato com a cultura surda sabe as dificuldades que os surdos encontram para se comunicar, principalmente na escola.. falta de intérpretes, falta de atendimento especializado.. e principalmente, preconceito.
Ana Luisa Cosme 06-06-2012 - 01h13min
Adriana, infelizmente você precisa sair do senso comum, sua fala mostra o quanto você desconhece sobre cultura surda. Formar gueto? Nunca, não é isso que os surdos querem. Antes de falar sobre este assunto sugiro, além de ler o livro de Carlos Skliar que o colega falou, que conheça a comunidade surda, ouça a voz deles, não formule opinião na base empírica. Não fale por eles. Eu também já tive o seu discurso, mas depois que passei a conviver junto à comunidade surda, puder "abrir" meus olhos.
Lene Reis 06-06-2012 - 00h52min
Sugiro que a Sra. Adriana faça uma pesquisa, principalmente na temático dos Estudos Surdos, em Estudos Culturais em Educação.
Se tivesse participado da Audiência em questão provavelmente teria informações preciosas para abrir-se a conceitos muito bem fundamentados.
A escola de surdos, que ofereça educação com Libras como L1 não é uma utopia... É um direito que aos surdos é garantido na Lei 10.436, no Decreto 5626 e na Convenção da ONU ratificada pelo Decreto 6.949!
ANA PAULA JUNG 05-06-2012 - 20h00min
Sugiro a Sra. Adriana se informar melhor sobre o assunto, para depois opinar. Sugiro, novamente, ler o livro A Surdez - um olhar sobre as diferenças. Se procurar no Google poderá achar algumas resenhas ou trabalhos acadêmicos sobre o livro.
Regys 05-06-2012 - 11h20min
Minha opinião: Os surdos querem criar um guetho onde os ouvintes são excluídos. Direito deles, quantas sociedades fechadas existem. Agora a questão do ensino é diferente. Em que mundo eles estão? Melhor, em que país estão? Que lingua fala esse pais? PORTUGUÊS!!! O sistema está feito de um modo que se um surdo não tiver um interprete por perto, não consegue se comunicar pois sequer é capaz de escrever um bilhete. Depender de um interprete é escravidão, é isso que eles querem? ...
Adriana 04-06-2012 - 21h03min
Para comentar e ver mais comentários - acessar o link da página acima indicada.
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MUITO A PROPÓSITO VEJAM O QUE OPINAM NOSSOS PARES PORTUGUESES:
CAMPANHA - Surdos Oralistas - "Nós Existimos (Ouvimos), Nós Falamos!":
A OUVIR pretende abrir a sua primeira Campanha, que tem como objectivo a consciencialização da sociedade em geral. Quer alertar para os problemas inerentes à surdez, em divulgar os meios de apoio e as ajudas técnicas, que favoreçam a ACESSIBILIDADE das pessoas portadoras de próteses e/ou implantes auditivos.
Na diversidade do universido da surdez, existem duas realidades: o Surdo Gestualista (quem comunica através de LGP - Língua Gestual Portuguesa), e o Deficiente Auditivo Oralista (que usa a linguagem verbal, como principal meio de comunicação). Queremos dar a entender que o Deficiente Auditivo Oralista é uma parte esquecida da sociedade, devido à escassez da informação sobre o processo de reabilitação, a integração social, enquanto cidadãos que gozam do exercício pleno de direitos.
O recurso à ACESSIBILIDADE é fundamental para o desenvolvimento destas pessoas, e para facilitar o seu quotidiano nos locais públicos, ou onde possa haver mais ruído. Por isso, é necessário aprofundar e exigir democraticamente, o direito à informação. Poder-se-á obter vantagens, com os seguintes recursos:
- Legendagens de áudio e de sinais luminosos (nos locais públicos),
- Legendagem de filmes e programas (no cinema e na televisão),
- Instalação de Sistema por Indução Magnética, ou Indutora (temos, como exemplo: Teatro da Trindade), ou o Sistema FM baseado na tecnologia de emissão-recepção auricular.
Queremos despertar o interesses das entidades competentes, e outros organismos, que intervenham na reavaliação e melhoramento acústico dos espaços tratados anteriormente, e que devem estar conscientes dos problemas do Deficientes Auditivo.