PRECISAMOS PARTICIPAR DE REUNIÕES ONDE SÃO TRATADOS TEMAS DE ACESSIBILIDADE PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
INFELIZMENTE tenho sido a única pessoa surda aparelhada, usuária da língua portuguesa que aparece nesse tipo de reunião em São Paulo. Em algumas tive o prazer da companhia da Lak Lobato. Ontem no Cinesesc estive em um bate papo sobre acessibilidade no cinema, a convite da Marta Gil. A Marta é uma pessoa que trabalha enfocando todas as deficiências e conhece nossas necessidades. Mas o espaço dedicado à reunião tinha alto falantes e microfones comuns (por sorte bem calibrados, então pude acompanhar com os AASI) E INTÉRPRETE DE LIBRAS, nada voltado às nossas necessidades como estenotipia ou aro magnético. Isso me fez pensar muito na nossa "invisibilidade". Na maioria dos eventos que participo existem intérpretes de libras e nada mais para os surdos usuários da língua portuguesa. E tenho que admitir que a culpa dessa atitude é nossa, simplesmente porque não comparecemos, não damos a cara e não protestamos quando somos ignorados. RECLAMAR EM REDE SOCIAL NÃO LEVA A NADA, SE NÃO APARECEMOS VÃO CONTINUAR A NOS IGNORAR. e DEIXAR QUE OUTROS FALEM EM NOSSO NOME, FALEM EM NOME DE TODOS OS SURDOS...
Entendo que a maioria estuda e trabalha, acaba não tendo tempo para isso, mas é muito triste ser a única a falar nessas reuniões, a falar sempre a mesma coisa, e o pior sentir que por ser uma só, por mais explicativa que seja meu discurso cai num vácuo...estou triste porque isso se repete ao longo dos anos.
Além das políticas de saúde auditiva do SUS, que oferecem aparelhos auditivos e implantes cocleares precisamos de uma política cultural, educacional que nos permita estudar, trabalhar, ir ao teatro, cinema...enfim ter uma cidadania plena.
Precisamos de TV, teatro e cinema legendados e instalação de AROS MAGNÉTICOS - HEARING LOOP (POR FAVOR PROCURE NO GOOGLE PARA SABER DO QUE SE TRATA) EM LOCAIS DE ESPETÁCULOS PÚBLICOS.
TENHO TAMBÉM observado uma tendência inquietante, os fornecedores de tecnologias assistivas acabam falando pela gente, mesmo sendo eles pessoas SEM DEFICIÊNCIA AUDITIVA.
VEJO QUE ESTÃO TENTANDO IMPOR JUNTO AOS ÓRGÃOS OFICIAIS E SALAS DE ESPETÁCULO legendas em tablets ou celulares para todos OS surdos, aproveitando colocar num mesmo aparelho a audiodescrição e as legendas.
Entendendo melhor, os cegos têm o recurso auditivo da audiodescrição, então um fone de ouvido dá conta. No caso dos surdos precisamos VER JÁ QUE NÃO OUVIMOS OU OUVIMOS MAL. Então é um sacrifício ver um filme ou peça de teatro com essas legendas oferecidas em tablets ou celulares...temos que olhar ao mesmo tempo para a tela ou palco e para as letrinhas nos celulares ou tabletes. Sem contar que se trata de um programa que temos que baixar e levar à casa de espetáculos o celular ou tablet...e quem não tem ou não usa esses equipamentos?
Acho que a sala de espetáculo deve fornecer a acessibilidade ao que está sendo apresentado. Mas como sempre acontece os empresários têm mais voz junto aos órgãos públicos e aos outros empresários e acabam impondo a tecnologia que mais lhes interessa sem ouvir os usuários. Exemplo disso é a invasão da dublagem nos cinemas, deixando a versão legendada para poucos horários.
Enfim estou triste por me sentir sozinha nesses eventos, por estar há anos repetindo as mesmas coisas e sentir que isso não ajudou a mudar nada, triste por ver que os empresários falam mais alto junto aos órgãos públicos e acabam impondo suas tecnologias e seus equipamentos...
Me sinto uma idiota falando sozinha...
Um comentário:
Sonia
Não, vc não está sozinha! Ontem, no bate papo do CineSESC tive a sensação que a ficha começou a cair.
Mas concordo com vc: outros surdos oralizados devem se fazer ouvir.
A ANCINE está com portas abertas até 8 de julho. Importante fazer valer seus direitos e explicitar suas necessidades.
Adelante!
Abraços
Marta Gil
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