quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ouvir Associação Portuguesa de Portadores de Próteses e Implantes Auditivos

Esta importante notícia sobre a mobilização dos nossos amigos de Portugal nos chegou pelos blogs:
http://ouvido-bionico.blogspot.com/
e
http://imisal.wordpress.com/2011/05/02/apresentacao-publica-da-ouvir-21-de-maio-em-lisboa/


Sobre a OUVIR

http://www.ouvir.pt/

Fundada por um grupo de amigos determinados a fazer diferença na vida das pessoas com dificuldades auditivas, assim na tarde de sexta-feira, dia 11 de Março de 2011 a OUVIR - Associação Portuguesa de Portadores de Próteses e Implantes Auditivos nasceu. A nossa História

A História começa, quando os problemas surgem… E foram precisamente com os problemas de audição que as pessoas se uniram sobre uma mesma causa, e houve necessidade de nos juntarmos, pelos diversos obstáculos que a deficiência auditiva pode causar. Muitos começaram por usar próteses auditivas, já uns tiveram de optar inicialmente pelo implante. Ainda existem aqueles, que precisaram partir para o implante, mesmo conseguindo ouvir com uma prótese auditiva.

No entanto, usar equipamentos de apoio à audição acarreta os seus custos, e não apenas com a aquisição, mas também, com a sua manutenção e compra de pilhas ou outros acessórios indispensáveis para obter o melhor rendimento e dar-se o melhor uso aos dispositivos. Foi exactamente pelo que se refere atrás, que um grupo de implantados, aparelhados, e mãe de implantada, incluindo ainda uma ou outra pessoa que mesmo ouvinte, quis participar no longo projecto que ia dar lugar.

Já anteriormente, houve tentativa de constituir uma associação de pessoas com problemas de audição, porém, nunca chegara a acontecer. Contudo, foi possível pela coragem e determinação de um grupo de pessoas que se disponibilizou a oferecer o seu apoio a pessoas com mesmos problemas, partiram para a aventura e conquista, na defesa de pessoas que portam a deficiência auditiva.
Começámos por registar o nome da associação, que se chamaria, OUVIR – Associação Portuguesa de Portadores de Próteses e Implantes Auditivos. Até que no dia 11 de Março de 2011, pela tarde, juntam-se para a escritura da associação. Foi então, que foi fundada a OUVIR, a associação tem este espaço onde podemos partilhar notícias, emoções, eventos, e outras tantas coisas, tal como informações de utilidade, que esperemos que sejam do agrado para muitos, e que possam servir de ajuda a muitas pessoas com problemas de audição, independentemente do equipamento de apoio auditivo que usem.

Por esse motivo, a OUVIR pretende dar grande apoio a um leque tão alargado de pessoas, em que o ponto de união é somente a dificuldade auditiva. É de coração aberto que partimos para este magnífico projecto.
É comunicando, ouvindo os outros, que se aprende e se cresce, ou que se enriquece!
Bem hajam a Todos.
A Direcção da OUVIR


Terça-feira, 3 de Maio de 2011OUVIR - Associação Portuguesa de Portadores de Próteses e Implantes Auditivos


Porque é o nosso dever divulgar e dar a conhecer iniciativas, projectos e seminários porque é com a informação escrita do mundo cibernético que as pessoas com dificuldades auditivas ou pais de crianças com Surdez apanham mais dados concretos de certas pesquisas, debates, documentários e direitos fazendo dela uma ferramenta indispensável no dia-a-dia.

E é com muito gosto que anuncio a existência da OUVIR – Associação Portuguesa de Portadores de Próteses e Implantes Auditivos (que alastra a Implantes Cocleares, Implantes Híbridos, Baha, Implante Tronco Cerebral e Implante do Ouvido Médio), constituídas por pessoas com problemas semelhantes e que usam próteses e implantes auditivos, também a nós juntaram pessoas que ouvem, por quererem ajudar a OUVIR.

Acreditamos no potencial da OUVIR, sabemos que não vai ser fácil, isto é garantido, mas ao menos temos prazer e amor em abraçar esta causa, sentimos hoje uma enorme necessidade de nos mostrar, com VOZ em defesa de todos os portadores de deficientes auditivos residentes em Portugal perante este enorme mar de DIVERSIDADE, queremos melhorar as condições de reabilitação, de equipamentos auditivos determinados para cada tipo de perda, facilidade de pagamento na compra e manutenção dos dispositivos de escuta entre muitos outros objectivos definidos.

A OUVIR – Associação Portuguesa de Portadores de Próteses e Implantes Auditivos tem por fim propiciar condições para que todas as pessoas portadoras de hipoacúsia possam minimizar o impacto físico, psicológico, social e vocacional que uma deficiência provocada pela perda auditiva poderá causar, bem como esclarecer, prevenir ou informar a família e a população em geral de quais os procedimentos na ajuda a estas mesmas pessoas.

Então, com uma equipa corajosa de ideais elevados na faixa dos 20-30 anos e que todos nós (aplica-se a todos os portadores de deficiência auditiva e pais de crianças com Surdez) juntos conseguiremos mudar, talvez para melhor, porque independentemente da situação, as crianças de hoje serão o futuro do amanhã, para que possam continuar a trilhar esse caminho por melhores condições e qualidade de vida!


Por isso vai haver uma Apresentação de Abertura da OUVIR, dia 21 de Maio de 2011, no Auditório dos Serviços Sociais da Câmara Municipal de Lisboa – Avenida Afonso Costa, 41 – 1990-032 Lisboa (junto ao Areeiro) com inicio marcado para as 09h. A entrada é gratuita e todos serão bem-vindos.

Façam ouvir as vossas poderosas VOZES, é preciso agir e mudar.
http://www.ouvir.pt/

Testemunho de Inês Laborinho

Nota do Sulp - A Inês é uma amiga de longa data do SULP e nos enche de orgulho que tenha se lembrado de nós emseu depoimento.


A minha entrada no mundo dos surdos e da surdez é uma história de dor, de perdas, de retrocessos, mas não é apenas isso: dela também têm feito parte descobertas, conquistas e lutas constantes, como na vida de todos, surdos e ouvintes, cegos ou não, deficientes motores ou não, deficientes mentais ou não, seres humanos, simplesmente. E digo, têm feito, não só por o processo ter começado há cerca de 5 anos, mas também porque a minha surdez é flutuante e tem sido progressiva.
Nunca estamos preparados para uma perda, ainda que ela seja mais ou menos previsível, muito menos quando ela surge do nada e traz por arrasto outras perdas, confrontando-nos com a nossa mortalidade, com os nossos limites, as nossas capacidades de luta, de persistência e de autoconhecimento.
O inicio da história é brutal, de uma brutalidade súbita e inexplicável, já que a primeira perda auditiva aconteceu de um dia para o outro, sem nada que o fizesse prever e ao fim de cerca de 40 anos como ouvinte; ironia do «destino», de ouvinte com «bom ouvido» para a música e para a aprendizagem de línguas estrangeiras! Adormeci como habitualmente, mas no dia seguinte, ao despertar, surgiu a perda auditiva à direita, acompanhada de síndrome vertiginosa. Algum tempo depois, iniciou-se a perda auditiva à esquerda, progressiva. Com a situação a persistir por alguns meses, a audição a diminuir, a percepção sonora da fala dificultada pelos ruídos constantes dentro dos ouvidos, o desequilíbrio na marcha a obrigar-me a recorrer a um braço amigo e a um esforço enorme para andar, melhor, para me arrastar aos ziguezagues, por entre corredores de hospitais na busca de uma explicação para o sucedido e de uma eventual cura, começou a tornar-se evidente para mim que «aquilo» não era provisório nem banal.
À perda auditiva seguiram-se outras perdas, já que a comunicação com os outros e a percepção do mundo se faz através dos sentidos e muito através dos sons: comecei a sentir o mundo a ficar mais distante, lá muito longe, tal como as vozes dos outros, e a sentir necessidade de recorrer a todos os meios ao meu alcance para compreender o que me era dito; dei por mim a pedir constantemente para repetirem o que diziam, a fixar-me na boca e nos gestos de quem falava, a escrever, a inventar gestos, a tentar decifrar por entre a amálgama de sons estranhos e muito diferentes dos que eu conhecia as perguntas, as respostas… Andar na rua passou a ser um desafio e um perigo constante, já que nem sempre me apercebia dos sons do trânsito e, por vezes, só dava pelos automóveis quando eles já estavam bem pertinho de mim. Deixei de reconhecer a minha própria voz, deixei de ouvir sons banais do quotidiano, o canto de um pássaro, o som do frigorífico, o «clic» da televisão quando se prime o botão, a minha respiração, a torneira que pinga e tantos outros que, de tão familiares, são remetidos para segundo e terceiro plano pelos ouvintes. O não perceber a música, o quase nem conseguir suportá-la, porque os sons me apareciam transfigurados, irreconhecíveis, incomodativos, foi das perdas mais dolorosas, tal como o ser forçada a parar a minha actividade profissional de vinte e muitos anos, já que nela a comunicação oral e a compreensão da fala e da leitura eram indispensáveis.
De repente, um bocado de mim tinha desaparecido e levado com ele parte da minha identidade e da minha vida – já não era eu e não me reconhecia na minha nova pele. Ao mesmo tempo que tudo isto acontecia, a novidade invadia a minha vida, embora durante algum tempo eu apenas visse as perdas e nem sequer vislumbrasse os ganhos e as descobertas: conheci muitas pessoas, outros surdos, médicos, técnicos de saúde, comecei a pesquisar incessantemente na Internet sobre a minha doença, sobre a surdez, a escrever e a ler muito mais do que era hábito, a entrar em contacto com pessoas de tantos sítios diferentes do mundo com as quais tinha em comum a perda de audição e/ou a doença, a ler blogues (alô, Alice, alô Lak, alô SULP…), a dar-me a conhecer, a fazer perguntas, a mostrar o que sentia, enfim, a abrir as janelas para o mundo e a ousar esticar mais e mais os meus limites, pelo menos aqueles que eu supunha serem os meus.
O uso das próteses auditivas, primeiro à direita, um ano depois também à esquerda, veio abrir novas possibilidades e permitiu-me o reencontro com alguns dos tais sons banais já esquecidos, bem como a percepção do que os outros diziam, em ambiente fechado e sem ruído. Reaprendi a ouvir, comecei a saborear cada som como se fosse novo, com uma alegria quase infantil, ao mesmo tempo que começava a aperceber-me das vibrações sonoras e a senti-las no meu corpo, e que expressões como «leitura labial» e «leitura oro-facial» se tornaram prática comum, ainda que de forma incipiente…
Logo que a recuperação física o permitiu, regressei aos estudos, com um objectivo determinado: vir a trabalhar com meninos surdos, conciliando a anterior experiência profissional com os novos conhecimentos, adquiridos pela vivência real da surdez e também pelo curso, nas áreas da surdez e da educação especial. E aí, de novo, o confronto entre a teoria e a prática, a aprendizagem dos tipos e graus de surdez, a etiologia da surdez, a cultura surda, a educação bilingue, a Língua Gestual Portuguesa, e tantas coisas mais, que me ajudaram a perceber o que se estava a passar comigo e que, afinal, se passava com muitas mais pessoas do que eu alguma vez tinha imaginado. O trabalho final que realizei neste curso possibilitou-me o contacto com outros adultos surdos pós-linguísticos, com a mesma doença que eu (Síndrome de Cogan, doença auto-imune sistémica rara, http://www.orpha.net/consor/cgi-bin/OC_Exp.php?lng=PT&Expert=1467), e saber como aconteceu a sua entrada no mundo da surdez, as suas reacções a isso e as estratégias que utilizaram para se adaptarem a uma nova existência.

Deste confronto entre o saber e o ser surgiram muitas mais perguntas, mas também algumas respostas e alguma reflexão. Descobri que efectivamente o ser surda é uma característica que possuo, mas que não é A característica que me define, assim como o facto de não ver bem ao longe também não chega para me definir enquanto indivíduo. Nós somos muito mais que o nosso corpo, somos o corpo e a mente, somos aquilo que nos acontece e o que fazemos a partir daí, somos um manancial de possibilidades que a vida, por vezes de forma muito dolorosa, se encarrega de nos fazer descobrir.

Estou hoje alguns passos à frente no caminho que iniciei há 5 anos e novos desafios sonoros poderão surgir (ou não) a qualquer momento, já que a perda auditiva, estacionária durante algum tempo, recomeçou. Sou quem era, mas não exactamente quem era, perdi e ganhei muito. No jogo da balança porém, o prato dos ganhos parece ser o mais pesado, pelo que ganhei de auto-conhecimento, de consciência das minhas fraquezas e das minhas forças e pelo mar infinito de possibilidades que se abriu à minha frente.
E, dado curioso, quanto menos oiço, maior a vontade de ouvir velhas canções e de conhecer novos cantores e novas melodias, de aprender outras línguas, (inspirada por surdos de longa data – alô Paula, alô Alice! - que sabem inglês, francês, espanhol e tocam instrumentos musicais, coisa para mim impensável há uns anos atrás!), maior o desejo de agarrar com as duas mãos tantos sons quantos nelas couberem e guardá-los na minha arca da memória auditiva, ali bem junto ao pensamento e ao coração.
Inês Laborinho,
10 de Abril de 2011

3 comentários:

Inês disse...

Oi, Sô!! Que surpresa boa, este reencontro!! Esta associação, criada por jovens surdos, familiares e amigos, cheios de energia, nasceu em Março e vai ser por eles apresentada ao país no próximo dia 21 de Maio, em Lisboa.
O meu contributo foi mesmo apenas esse testemunho...embora já conheça bem alguns deles.
Um grande abraço!
Inês

soramires disse...

Oi Inês que surpresa boa, este reencontro.
Estou divulgando a Ouvir em vários lugares, é muito importante para todos. Abraços

souza disse...
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