Reproduzimos matéria da Folha
São Paulo, quinta-feira, 23 de julho de 2009
TECNOLOGIA
Para quem não ouve
Softwares ajudam deficientes auditivos a ter percepção de ritmo, característica importante para diversas habilidades, como falar, andar e se socializar
JULIANA CALDERARI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O mundo se move em ritmo: é o que acontece com a lua, as marés, a rotação da Terra e também com as pessoas. Pensar, andar, falar e até se abaixar para pegar um lápis são movimentos ritmados. "Todas as nossas ações são rítmicas", diz Teumaris Buono Luiz, professora de educação física da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Foi apostando nisso que ela criou, em parceria com a UFPR (Universidade Federal do Paraná), dois softwares inéditos que ajudam deficientes auditivos a entender o que é o ritmo.
Segundo Buono, o aprendizado do ritmo acontece desde os primeiros anos de vida, quando o bebê ouve a voz da mãe e escuta cantigas de ninar. "É muito importante que haja essa estimulação. Com o surdo, isso não acontece", explica.
Por isso, os surdos têm dificuldades para aprender a falar. "Nossa fala é rítmica e pausada, e o surdo tem dificuldade em compreender como fazer isso por causa da falta de ritmo", diz Buono. A realização de tarefas cotidianas também pode ser prejudicada. "Alguns fazem tudo muito rápido."
Os dois programas criados convertem os ritmos em fenômenos visuais ou sensitivos, o que faz com que o surdo possa percebê-los, alcançando melhoras na fala, nos movimentos e na socialização.
O programa que converte os ritmos em recursos visuais é o BPM Counter. Coloca-se o número de BPM (batidas por minuto) de uma música, por exemplo, e o software traduz o ritmo em quadrados coloridos que se acendem conforme a velocidade das batidas. Perceber esse ritmo, segundo os especialistas, ajuda no aprimoramento da fala e dos movimentos.
O programa ainda não traz autonomia total ao usuário, pois exige que um ouvinte conte as BPM que o deficiente irá visualizar. Sites de download de músicas costumam especificar essa informação.
Liliane Desgualdo, fonoaudióloga da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), acredita que o BPM Counter possa ser uma boa ferramenta de reabilitação. "Acho que pode ser usado em outras áreas, como para trabalhar falhas no processamento auditivo."
Nesses casos, a audição funciona normalmente, mas o entendimento é comprometido por causa de uma falha no processamento neurológico, que traduz de forma errada a informação recebida pelos ouvidos. O processo fica distorcido e pode gerar dificuldades na fala e na leitura. "Durante meus trabalhos com crianças do ensino fundamental, observei que 10% tinham processamentos auditivos alterados", diz Desgualdo.
O segundo software desenvolvido pela Unicamp com a UFPR funciona com a tecnologia VPM (vibrações por minuto) e pode ser colocado em celulares. Ao chegar em um ambiente onde há som, o programa capta as vibrações e as repassa para o celular do usuário usando o modo vibratório. "O surdo poderá sentir, pela vibração do celular, o ritmo ambiente", explica. O programa pode ajudar o deficiente a participar de festas e outros eventos.
Além de ajudar a desenvolver movimentos, a fala e a leitura, o ritmo traz um sentimento de que se pertence a um grupo, explica Buono. "Em passeatas e shows, quando as pessoas cantam em grupo, isso fica claro. O mesmo acontece com o surdo, que passa a se sentir parte do grupo."
Por enquanto, o software só existe em protótipos. Já o BPM Counter pode ser acessado gratuitamente pelo endereço
www.inf.ufpr.br/imago/bpmcounter.html
Dica de matéria enviada pelo Prof. Drauzio Antonio Rezende Junior
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