A PARTIR DESTA POSTAGEM RESOLVI ARQUIVAR NO BLOG SULP MATÉRIAS QUE FALEM DE PROFISSIONAIS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA, PESSOAS QUE PUDERAM ESTUDAR, TER UMA FORMAÇÃO PROFISSIONAL E EXERCÊ-LA. PROCURO EVITAR A PALAVRA SUPERAÇÃO PORQUE ADQUIRIU UMA AURA PIEGAS, DE HISTÓRIAS DRAMÁTICAS E DEFICIENTES HERÓICOS. NADA DISSO VAMOS TRATAR DE PESSOAS, GENTE COMO A GENTE QUE VÃO TOCANDO SUA VIDA, ENCONTRANDO SOLUÇÕES PARA SUAS DIFICULDADES.
VAMOS À PRIMEIRA HISTÓRIA...SE QUISER CONTAR A SUA MANDE PARA MEU E-MAIL, mas lembro que só tratamos de deficiência auditiva e de surdos ORALIZADOS, usuários da língua portuguesa sramiresdealmeida@yahoo.com.br
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"“Eu nunca imaginei que um dia eu estaria aqui, assumindo para o mundo a minha deficiência. Mas a vida é mesmo muito engraçada e, pesquisando na Internet, acabei encontrando o blog da Paula, que me deu forças para encarar a verdade.
Bem, sou Amanda Verena Carvalho Batista, 23 anos, sou de Teresina – Piauí, Psicóloga, estou concluindo uma especialização na área e, paralelamente, também faço faculdade de Direito. Tenho deficiência auditiva bilateral moderada a profunda, sou oralizada, ninja em leitura labial, nunca me interessei por Libras e, acreditem, faço uso de aparelhos auditivos há apenas um mês.
A Paula me pediu para contar como é ser Psicóloga e deficiente auditiva, então vou começar a falar um pouquinho como vim parar onde estou agora. Minha mãe me contou que, quanto eu tinha uns 3 ou 4 anos, tive uma infecção muito grave nos ouvidos e fiz uso prolongado de antibióticos. Por conta dessa doença, acabei perdendo um pouco a audição e minha família sabia disso, mas nunca me levaram para fazer algum tratamento ou algo do tipo. Nunca pensaram na possibilidade ou necessidade do uso de aparelhos e, assim, cresci sem ouvir muito bem. Eu apenas fazia a audiometria de vez em quando para acompanhar a evolução do quadro.
O engraçado é que, mesmo sem ouvir direito, sempre fui a melhor aluna da sala, as melhores notas sempre eram as minhas e nunca repeti ano. Por outro lado, sempre sofri MUITO preconceito por não escutar direito e não foram poucas as vezes que chorei no banheiro da escola por causa das grosserias dos colegas. Até mesmo os professores e coordenadores não sabiam como agir quando as pessoas eram agressivas comigo, e olha que eu estudei a vida inteira lá e era uma das melhores escolas da cidade (caríssima, diga-se de passagem, e sem estrutura para lidar com deficientes auditivos!!!)...QUE LER MAIS? VÁ ATÉ O BLOG DA PAULA NO LINK ABAIXO.
http://cronicasdasurdez.com/uma-psicologa-com-deficiencia-auditiva/#comment-41906Um Professor surdo mas antes de tudo um Professor
O Drauzio é participante da comissão que elaborou o Manifesto Sulp, um bom amigo, um cidadão e professor universitário.
Às vezes é convidado para falar do SULP e de sua experiência pessoal e profissional.
O texto que segue é parte da resposta a uma questão originada numa entrevista.
Mas creio que o texto é muito esclarecedor não somente do ponto de vista do Drauzio como do Sulp.
"Sou professor universitário. Ministro aulas na Universidade. Trabalho como qualquer outro professor.
Entrei na Universidade por concurso público disputando com ouvintes.
Não permito que minha deficiência auditiva atrapalhe meu trabalho, que executo normalmente como faz qualquer ouvinte.
Não converso com os alunos sobre a deficiência porque não vejo motivo, afinal, estou lá como professor, não como surdo.
Abordo a questão apenas quando me perguntam, o que não é comum. No entanto, eu os instruo a me chamar quando estou de frente para eles e a erguer a mão quando querem fazer perguntas.
Enfim, busco não dar a surdez uma importância maior do que ela deve ter.
Na verdade, eu não estudo o assunto surdez até porque a minha formação é Economia e não Medicina.
Meu trabalho, bem como o do grupo SULP (Surdos Usuários da Língua Portuguesa) é conscientizar os surdos sobre os seus direitos, sobre as tecnologias que podem ajudá-los e conscientizar a população ouvinte e as autoridades sobre as necessidades dos surdos.
É um trabalho de popularização e conscientização das necessidades dos surdos usuários da língua portuguesa (oralizados).
Trabalho nesse assunto porque eu também sou surdo e por uma questão de cidadania.
Tenho surdez severa em um ouvido e profunda em outro. Curiosamente, antes de eu perder a audição em um dos ouvidos, eu seria considerado surdo unilateral, já que ouvia perfeitamente com apenas um dos lados. Porém, perdi a audição ainda jovem e quando entrei no mercado de trabalho, já estava surdo e usando aparelhos auditivos. Então, não vivenciei a surdez unilateral no mercado de trabalho.
Atuo na questão da surdez, conforme as possibilidades, para contribuir na luta pela melhoria da acessibilidade aos surdos na sociedade e também, tanto quanto possível, para ajudar a combater o preconceito que existe, tanto veladamente quanto explicitamente."
Às vezes é convidado para falar do SULP e de sua experiência pessoal e profissional.
O texto que segue é parte da resposta a uma questão originada numa entrevista.
Mas creio que o texto é muito esclarecedor não somente do ponto de vista do Drauzio como do Sulp.
"Sou professor universitário. Ministro aulas na Universidade. Trabalho como qualquer outro professor.
Entrei na Universidade por concurso público disputando com ouvintes.
Não permito que minha deficiência auditiva atrapalhe meu trabalho, que executo normalmente como faz qualquer ouvinte.
Não converso com os alunos sobre a deficiência porque não vejo motivo, afinal, estou lá como professor, não como surdo.
Abordo a questão apenas quando me perguntam, o que não é comum. No entanto, eu os instruo a me chamar quando estou de frente para eles e a erguer a mão quando querem fazer perguntas.
Enfim, busco não dar a surdez uma importância maior do que ela deve ter.
Na verdade, eu não estudo o assunto surdez até porque a minha formação é Economia e não Medicina.
Meu trabalho, bem como o do grupo SULP (Surdos Usuários da Língua Portuguesa) é conscientizar os surdos sobre os seus direitos, sobre as tecnologias que podem ajudá-los e conscientizar a população ouvinte e as autoridades sobre as necessidades dos surdos.
É um trabalho de popularização e conscientização das necessidades dos surdos usuários da língua portuguesa (oralizados).
Trabalho nesse assunto porque eu também sou surdo e por uma questão de cidadania.
Tenho surdez severa em um ouvido e profunda em outro. Curiosamente, antes de eu perder a audição em um dos ouvidos, eu seria considerado surdo unilateral, já que ouvia perfeitamente com apenas um dos lados. Porém, perdi a audição ainda jovem e quando entrei no mercado de trabalho, já estava surdo e usando aparelhos auditivos. Então, não vivenciei a surdez unilateral no mercado de trabalho.
Atuo na questão da surdez, conforme as possibilidades, para contribuir na luta pela melhoria da acessibilidade aos surdos na sociedade e também, tanto quanto possível, para ajudar a combater o preconceito que existe, tanto veladamente quanto explicitamente."
Audiologistas que usam próteses auditivas
http://desafiodaalma.blogspot.com/2008/07/quando-experincia-faz-diferena.html
Veja uma reportagem muito interessante sobre profissionais que trabalham adaptando próteses auditivas e que também usam esse tipo de próteses.
Como no mundo da Net muita coisa interessante desaparece copiei a matéria e deixo o link acima com os créditos do autor do blog.
MAIS UM PROFISSIONAL SURDOVeja uma reportagem muito interessante sobre profissionais que trabalham adaptando próteses auditivas e que também usam esse tipo de próteses.
Como no mundo da Net muita coisa interessante desaparece copiei a matéria e deixo o link acima com os créditos do autor do blog.
QUANDO A EXPERIÊNCIA FAZ A DIFERENÇA
Polliana faz parte de um raro grupo de audiologistas que é usuário de AASI
“Influência positiva”
Samira Camargo Baus, do Hermany Audiologic Instruments, de Florianópolis, também faz parte deste grupo. Usuária de aparelhos auditivos desde 2002, ela tem plena consciência de como o fato de ser adaptada otimizou sua prática terapêutica. “Isto influencia de maneira positiva no processo de adaptação com meus pacientes. O fato de eu ser uma jovem-adulta, usar aparelhos há anos e ter uma excelente adaptação e aceitação dos mesmos contribui para quebrar o estigma e preconceito de que próteses são para pessoas idosas e que é muito difícil de se adaptar aos aparelhos auditivos...” Ela dá um exemplo: “Um jovem tinha dificuldades em aceitar a perda auditiva e o uso dos aparelhos. Quando ele me conheceu, e soube que eu usava aparelhos auditivos, sentiu-se seguro para fazer perguntas (...). Hoje, além de ter tido sucesso na adaptação bilateral, este rapaz se apresenta como uma pessoa mais segura e confiante.” Ela garante que a sua experiência foi bastante válida não só para sua formação, como a de suas próprias colegas de classe. “ No período acadêmico, fui convidada a dar depoimentos para colegas de graduação. A relação da teoria com a prática foi muito proveitosa”. Apesar de ter consciência do seu diferencial, ela está sempre se aprimorando. E dá um recado a outros profissionais: “No caso do fonoaudiólogo atuar com aparelhos auditivos, minha recomendação é atualizar-se técnico-cientificamente. Isto é o que tenho procurado fazer, pois as mudanças tecnológicas nessa área são muito rápidas.”
De fato, um universo em constante mutação – e não só da tecnologia. Seja pelo imperativo de conhecer melhor o produto, seja pela necessidade prática de vivenciar a experiência de seus pacientes, alguns audiologistas, não satisfeitos em apenas ´escutar´ o acessório, estão tentando novas abordagens com o aparelho auditivo, a fim de ter uma experiência mais real e próxima da de uma pessoa adaptada.
Testar o acessório em si mesma
Larissa Coutinho Fonseca, da clínica Limiar, de Porto Velho, é um deles. Por ter um irmão mais novo usuário de aparelho auditivo, ela acabou se habituando desde cedo com o universo da fonoaudiologia, e foi assim que se apaixonou pela área e decidiu seguir a profissão. Apesar de toda sua prática – tanto pessoal como profissional – e mesmo não tendo perda auditiva, ela resolveu dar um passo além: testar o acessório em si mesma. “Não gosto de usar o termo ‘deficiência auditiva’ e também não concordo quando a Fonoaudiologia tenta “clinicalizar” a surdez, como algo ruim que precisa ser curado. Conheço pessoas que usam aparelho auditivo que são tão ou mais brilhantes que muitas pessoas aparentemente sem nenhum problema. Foi por isso que me interessei imediatamente pelo livro Manual Bem-Humorado dos Privilegiados Auditivos. Ouvir a história do ponto de vista de alguém que sente na pele diariamente o que nós podemos apenas imaginar ou estudar em livros... Foi por causa dessa obra que um dia resolvi usar o aparelho um dia inteiro, desligado, para ver como era”. A experiência a marcou para sempre: “Ao usá-lo em mim mesma, percebi que pode ser uma experiência bastante incômoda! As pessoas ficam olhando, temerosas em dirigir a palavra a alguém que usa aparelho (...). Foi uma experiência única, porque cheguei ao fim do dia louca pra tirar ‘aquilo’ da orelha!” Ela aprendeu a ser mais flexível com seus pequenos pacientes: “Antes eu sempre obrigava minhas crianças a usarem o aparelho o tempo todo e não tirá-los de jeito nenhum... Resultado: elas arrancavam os aparelhos no primeiro deslize da mãe! Hoje, já não exijo que elas o usem o dia todo”.
Compreender melhor seus pacientes
Se as pessoas atendidas por este seleto grupo de fonoaudiólogas acabam tendo uma percepção mais realista do aparelho auditivo e encarando, dessa forma, de maneira mais positiva o processo de adaptação, talvez se possa tirar algumas lições desta experiência. Os profissionais que a conhecem, com efeito, acabaram compreendendo melhor seus pacientes, não só por experimentarem a amplificação sonora, mas também o desconforto associado à prótese e – igualmente importante – a inevitável sensação de estranheza causada pelo preconceito. Em outras palavras, adentraram de fato no muitas vezes intangível universo da pessoa com déficit auditivo.
Para a fonoaudióloga Sandra Braga, da Audibel, isso está se tornando uma tendência entre os profissionais, até porque “algumas queixas dos pacientes são relativas à qualidade do som e para tanto temos que avaliar o som escutando o aparelho”. Camila Quintino, da Starkey, concorda: “Eu trabalho muito com treinamento (...) e sempre recomendo escutar os aparelhos. Enfatizo sempre que, somente quando escutamos os aparelhos, entendemos realmente o que está acontecendo ou mudando, conforme alteramos os controles. Acredito que essa é a melhor forma de relacionar a teoria com a prática, ou seja, entender realmente as mudanças e funcionamento do circuito do aparelho auditivo. Na minha opinião isso se tornou mais claro desde que comecei a atuar com aparelhos auditivos, eu aprendi e aprendo melhor desta forma. Muitas ‘fonos’ do meu convívio fazem isso também.”
“É fácil falar, difícil é agir !”
De fato, nada como a própria experiência. Mas, ao que tudo indica, levará algum tempo para que os profissionais não-adaptados a vejam com mais naturalidade. Embora alguns temam, não sem razão, o risco de trauma causado pela amplificação sonora numa audição normal, a experiência de usar o aparelho auditivo merece ser conhecida, e é possível que venha a surpreender muitos audiologistas, fazendo-os pensar duas vezes antes de mandar uma criança em processo de adaptação usar a prótese o dia inteiro... Afinal, a teoria é uma coisa e a prática, outra. Como disse Polliana: É fácil falar, difícil é agir !”
Realmente. Como qualquer nova abordagem, esta também tem encontrado certa resistência, e a experiência de usar a prótese auditiva permanece desconhecida para muitos fonoaudiólogos. Seja como for, não resta dúvida de que os poucos que tiveram um contato mais a fundo com o aparelhinho auditivo tiraram preciosas lições da experiência. Como lembra Polliana: “Certa vez, uma criança viu que eu estava com o AASI e, por ela estar com uma otite, perguntou o que era aquilo nos meus ouvidos. Ela parecia confusa, mas quando eu respondi que era para ouvir melhor, ela imediatamente abriu um sorriso e pediu um igual pro pai... aquele momento foi realmente gratificante – inesquecível”.
Existe, no Brasil, um seleto grupo de audiologistas que, por serem usuários de aparelhos auditivos, acabam tendo uma maior aproximação com os pacientes durante a prática terapêutica. A experiência pessoal com o AASI, de fato, revela tantas nuances do processo de adaptação auditiva que pode estar se tornando uma tendência entre os outros profissionais.
“Ser usuária de AASI”, diz a fonoaudióloga Polliana Capellini Saccon, “tem enorme influência na terapia e no entendimento com o paciente. Ele vê que eu estou bem, falo normalmente, sou ‘bem resolvida’, é possível acertar na adaptação, é possível o uso ser ‘confortável’...”. Pós-graduanda em audiologia clínica pelo Hospital AC Camargo e atualmente atendendo em clínicas de Laranjal e Tietê, no interior paulista, Polliana faz parte de um raro grupo de profissionais da área da reabilitação e mesmo da audiologia. Por ser uma das poucas fonoaudiólogas do país com perda auditiva bilateral e usuária da própria prótese que recomenda na prática clínica, ela tem mais facilidade para se pôr no lugar – e assim compreender melhor – os seus pacientes.
“Ser usuária de AASI”, diz a fonoaudióloga Polliana Capellini Saccon, “tem enorme influência na terapia e no entendimento com o paciente. Ele vê que eu estou bem, falo normalmente, sou ‘bem resolvida’, é possível acertar na adaptação, é possível o uso ser ‘confortável’...”. Pós-graduanda em audiologia clínica pelo Hospital AC Camargo e atualmente atendendo em clínicas de Laranjal e Tietê, no interior paulista, Polliana faz parte de um raro grupo de profissionais da área da reabilitação e mesmo da audiologia. Por ser uma das poucas fonoaudiólogas do país com perda auditiva bilateral e usuária da própria prótese que recomenda na prática clínica, ela tem mais facilidade para se pôr no lugar – e assim compreender melhor – os seus pacientes.
A audiologista Samira Camargo Baus:
"Usar aparelhos auditivos influencia de maneira positiva no processo de adaptação"
“Influência positiva”
Samira Camargo Baus, do Hermany Audiologic Instruments, de Florianópolis, também faz parte deste grupo. Usuária de aparelhos auditivos desde 2002, ela tem plena consciência de como o fato de ser adaptada otimizou sua prática terapêutica. “Isto influencia de maneira positiva no processo de adaptação com meus pacientes. O fato de eu ser uma jovem-adulta, usar aparelhos há anos e ter uma excelente adaptação e aceitação dos mesmos contribui para quebrar o estigma e preconceito de que próteses são para pessoas idosas e que é muito difícil de se adaptar aos aparelhos auditivos...” Ela dá um exemplo: “Um jovem tinha dificuldades em aceitar a perda auditiva e o uso dos aparelhos. Quando ele me conheceu, e soube que eu usava aparelhos auditivos, sentiu-se seguro para fazer perguntas (...). Hoje, além de ter tido sucesso na adaptação bilateral, este rapaz se apresenta como uma pessoa mais segura e confiante.” Ela garante que a sua experiência foi bastante válida não só para sua formação, como a de suas próprias colegas de classe. “ No período acadêmico, fui convidada a dar depoimentos para colegas de graduação. A relação da teoria com a prática foi muito proveitosa”. Apesar de ter consciência do seu diferencial, ela está sempre se aprimorando. E dá um recado a outros profissionais: “No caso do fonoaudiólogo atuar com aparelhos auditivos, minha recomendação é atualizar-se técnico-cientificamente. Isto é o que tenho procurado fazer, pois as mudanças tecnológicas nessa área são muito rápidas.”
De fato, um universo em constante mutação – e não só da tecnologia. Seja pelo imperativo de conhecer melhor o produto, seja pela necessidade prática de vivenciar a experiência de seus pacientes, alguns audiologistas, não satisfeitos em apenas ´escutar´ o acessório, estão tentando novas abordagens com o aparelho auditivo, a fim de ter uma experiência mais real e próxima da de uma pessoa adaptada.
A experiência de usar a prótese mudou a abordagem profissional de Larissa
Testar o acessório em si mesma
Larissa Coutinho Fonseca, da clínica Limiar, de Porto Velho, é um deles. Por ter um irmão mais novo usuário de aparelho auditivo, ela acabou se habituando desde cedo com o universo da fonoaudiologia, e foi assim que se apaixonou pela área e decidiu seguir a profissão. Apesar de toda sua prática – tanto pessoal como profissional – e mesmo não tendo perda auditiva, ela resolveu dar um passo além: testar o acessório em si mesma. “Não gosto de usar o termo ‘deficiência auditiva’ e também não concordo quando a Fonoaudiologia tenta “clinicalizar” a surdez, como algo ruim que precisa ser curado. Conheço pessoas que usam aparelho auditivo que são tão ou mais brilhantes que muitas pessoas aparentemente sem nenhum problema. Foi por isso que me interessei imediatamente pelo livro Manual Bem-Humorado dos Privilegiados Auditivos. Ouvir a história do ponto de vista de alguém que sente na pele diariamente o que nós podemos apenas imaginar ou estudar em livros... Foi por causa dessa obra que um dia resolvi usar o aparelho um dia inteiro, desligado, para ver como era”. A experiência a marcou para sempre: “Ao usá-lo em mim mesma, percebi que pode ser uma experiência bastante incômoda! As pessoas ficam olhando, temerosas em dirigir a palavra a alguém que usa aparelho (...). Foi uma experiência única, porque cheguei ao fim do dia louca pra tirar ‘aquilo’ da orelha!” Ela aprendeu a ser mais flexível com seus pequenos pacientes: “Antes eu sempre obrigava minhas crianças a usarem o aparelho o tempo todo e não tirá-los de jeito nenhum... Resultado: elas arrancavam os aparelhos no primeiro deslize da mãe! Hoje, já não exijo que elas o usem o dia todo”.
Compreender melhor seus pacientes
Se as pessoas atendidas por este seleto grupo de fonoaudiólogas acabam tendo uma percepção mais realista do aparelho auditivo e encarando, dessa forma, de maneira mais positiva o processo de adaptação, talvez se possa tirar algumas lições desta experiência. Os profissionais que a conhecem, com efeito, acabaram compreendendo melhor seus pacientes, não só por experimentarem a amplificação sonora, mas também o desconforto associado à prótese e – igualmente importante – a inevitável sensação de estranheza causada pelo preconceito. Em outras palavras, adentraram de fato no muitas vezes intangível universo da pessoa com déficit auditivo.
Para a fonoaudióloga Sandra Braga, da Audibel, isso está se tornando uma tendência entre os profissionais, até porque “algumas queixas dos pacientes são relativas à qualidade do som e para tanto temos que avaliar o som escutando o aparelho”. Camila Quintino, da Starkey, concorda: “Eu trabalho muito com treinamento (...) e sempre recomendo escutar os aparelhos. Enfatizo sempre que, somente quando escutamos os aparelhos, entendemos realmente o que está acontecendo ou mudando, conforme alteramos os controles. Acredito que essa é a melhor forma de relacionar a teoria com a prática, ou seja, entender realmente as mudanças e funcionamento do circuito do aparelho auditivo. Na minha opinião isso se tornou mais claro desde que comecei a atuar com aparelhos auditivos, eu aprendi e aprendo melhor desta forma. Muitas ‘fonos’ do meu convívio fazem isso também.”
“É fácil falar, difícil é agir !”
De fato, nada como a própria experiência. Mas, ao que tudo indica, levará algum tempo para que os profissionais não-adaptados a vejam com mais naturalidade. Embora alguns temam, não sem razão, o risco de trauma causado pela amplificação sonora numa audição normal, a experiência de usar o aparelho auditivo merece ser conhecida, e é possível que venha a surpreender muitos audiologistas, fazendo-os pensar duas vezes antes de mandar uma criança em processo de adaptação usar a prótese o dia inteiro... Afinal, a teoria é uma coisa e a prática, outra. Como disse Polliana: É fácil falar, difícil é agir !”
Realmente. Como qualquer nova abordagem, esta também tem encontrado certa resistência, e a experiência de usar a prótese auditiva permanece desconhecida para muitos fonoaudiólogos. Seja como for, não resta dúvida de que os poucos que tiveram um contato mais a fundo com o aparelhinho auditivo tiraram preciosas lições da experiência. Como lembra Polliana: “Certa vez, uma criança viu que eu estava com o AASI e, por ela estar com uma otite, perguntou o que era aquilo nos meus ouvidos. Ela parecia confusa, mas quando eu respondi que era para ouvir melhor, ela imediatamente abriu um sorriso e pediu um igual pro pai... aquele momento foi realmente gratificante – inesquecível”.
Artigo publicado na revista Audio-Infos #10.
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/10/1354994-empresario-surdo-vence-timidez-e-disputa-premio-nos-eua.shtml
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