domingo, 22 de setembro de 2013

A SURDEZ NÃO É MARCA REGISTRADA E NÃO TEM COPYRIGHT...

Há alguns anos escrevo e organizo este blog que nasceu de grupos de surdos oralizados bem antigos.. Primeiro no Yahoo grupos, depois no Orkut e finalmente no Facebook.
Os grupos tinham por nome e objeto os "Surdos Oralizados" o que nos distinguia dos surdos sinalizadores, usuários de língua de sinais.

Cansei de ser agredida nas redes sociais por gente que se crê "dona" da expressão "surdo" e que agride e ataca quem mostra que existe uma enorme diversidade no universo da perda de audição.
Recentemente se anunciava o DIA DO SURDO...e eu sugeri que em vez de festas ou discursos
que nada acrescentam a gente trabalhasse no "combate à surdez" entendido como divulgação do TESTE DA ORELHINHA, das medidas de SAÚDE AUDITIVA PROMOVIDAS PELO SUS, divulgação da oralização, do implante coclear e das prótese auditivas, além da luta pelos recursos de acessibilidade que tanto fazem falta.

Tive que ler coisas do tipo "você é uma infeliz", "você não aceita a sua surdez", e até lembraram que eu sou uma pessoa idosa e por isso me respeitariam...ou seja me agrediram "sem querer querendo" como diria o mexicano Chavo (Chaves no Brasil)...de fato estou acostumada com esse tipo de agressão e não me incomodo nem um pouco. E chegaram a me dizer que eu não deveria divulgar "essas ideias" porque existem pais de surdos que não fariam essas coisas (imagino que oralização, aparelhos auditivos, implantes...).
Ao mesmo tempo que me consideram irrelevante pelas minhas ideias me acham "nociva". É incoerência pura porque alguém que não é lido, cujas ideias não circulam, não tem como ser nocivo. Alguns que talvez não tenham o hábito de ler e entender o texto entenderam "combate à surdez" como "extermínio dos surdos"...eu aprendiz da ciência eugênica, talvez admiradora de Césare Lombroso...kkkk


EXEMPLOS

COPIADOS DO FACEBOOK

Vamos usar essa data para em vez de "festejar" um dia do surdo façamos dele 


um dia de combate e

esclarecimento sobre a surdez.



Feliz dia dos aparelhos auditivos, dos implantes e de tudo que nos ajude a 


ouvir...e desejo que toda 

criança tenha direito ao TESTE DA ORELHINHA para poder ser tratada 


o quanto antes...

Vc parece uma pessoa infeliz, Sô. Sempre reclamando de tudo quanto é lugar, 


só por deus!! afff --'


Só acho chato sempre reclamar de tudo, sendo que tem VÁÁÁRIAS coisas boas, 


e vc sempre vê o negativismo por todo lado

Tem preconceito com isso e não aceita a surdez dela mesmo.. eu fico pasma da 

atitude dela

Ué falo oq acho mas eu te respeito por que vc é uma idosa. 


Não me importo mais. Faça o que você achar, mas seria legal não impor suas 

ideias na cabeça das pessoas nesse negócio de surdez.

Sem querer quem me criticou tocou num ponto chave...para muitos o assunto 

surdez é realmente "um negócio" e bem lucrativo pelo jeito.



Participo de alguns grupos que reúnem sub-grupos cuja principal característica é querer ouvir. Então existem grupos voltados para o IMPANTE COCLEAR, com troca informações sobre a tecnologia de implante, onde vemos relatos de surdos jovens e adultos,  pais de crianças surdas falando de seus temores frente a uma cirurgia e depois as conquistas da audição recuperada, os exercícios para ouvir e falar melhor com ajuda da tecnologia e de profissionais de fonoaudiologia.

Discutimos muito sobre ajudas técnicas e acessibilidade, fazemos campanhas pedindo legendas no cinema, teatro, tevê, pedimos telão com legendagem por estenotipia, pedimos ampliadores de indução magnética (aro magnético) para espaços públicos, teatros, cinemas, salas de concertos, centros culturais. 
Pedimos atendimento por escrito via SMS  e E-MAIL ou CHAT para bancos, prestadores de serviços em geral, marcação de consultas médicas, serviços de emergência da polícia, bombeiros, hospitais,  bancos e cartões de crédito, pedidos de comida via internet...enfim tudo que o cidadão comum consegue fazer via telefônica e que alguns surdos não conseguem por não ouvir bem ao telefone.

Quando redigimos o Abaixo Assinado para nosso Manifesto, optamos por nos denominar SURDOS USUÁRIOS DA LÍNGUA PORTUGUESA  PARA ACOLHER os surdos que não tinham oralização plena mas liam e escreviam a língua portuguesa com fluência. E também para incluir os surdos que aprenderam a falar porque eram ouvintes e perderam a audição posteriormente.


Nunca participei de grupos usuários de língua de sinais e da chamada cultura surda porque nunca  usei língua de sinais e meu universo é a sociedade mais abrangente, onde nos comunicamos na língua portuguesa. Nunca me intrometi em assuntos concernentes aos que usam língua de sinais porque não é meu universo, meu universo é o dos surdos e deficientes auditivos que optaram pela oralização, pelo uso da língua portuguesa, próteses auditivas de todo tipo para poder ouvir e se comunicar.

Vejo que nas redes sociais há campanhas CONTRA O IMPLANTE COCLEAR dizendo que o implante vai acabar com a língua de sinais e com a chamada cultura surda. Em contraste com essa atitude agressiva, que divulga preconceitos e informações distorcidas não vejo surdos oralizados, aparelhados e implantados divulgar notas agressivas contra os surdos sinalizantes.

Por anos escolas e associações, utilizando verbas públicas, criaram uma "lenda" de que todo surdo se comunica usando língua de sinais...lenda essa que espalhada pelos meios de comunicação de massa e até entre as autoridades educacionais e culturais tem perseguido os surdos oralizados com preconceitos e exclusão dos recursos de acessibilidade. Cito como exemplo que a maioria dos eventos divulga que terá intérprete de língua de sinais, imaginando que isso será um recurso para todos os surdos quando na verdade a grande maioria dos surdos pode ouvir com próteses e se expressa muito bem na língua portuguesa. Esse esforço dessas entidades na manutenção de suas verbas e privilégios resulta hoje em dia na DISCRIMINAÇÃO DOS SURDOS USUÁRIOS DA LÍNGUA PORTUGUESA.

Estas reflexões continuam na próxima semana...

enquanto isso leiam
http://cronicasdasurdez.com/sobre-surdos-libras-acessibilidade-e-noticias-equivocadas-sobre-surdez/?fb_action_ids=10151692399598568&fb_action_types=og.likes&fb_ref=.Uj8ZAmPGKoU.like&fb_source=other_multiline&action_object_map=%7B%2210151692399598568%22%3A10150357384936297%7D&action_type_map=%7B%2210151692399598568%22%3A%22og.likes%22%7D&action_ref_map=%7B%2210151692399598568%22%3A%22.Uj8ZAmPGKoU.like%22%7D
Mais sobre o assunto...manifestação minha dirigida a grupos de militantes pela acessibilidade das pessoas com deficiência...


Vejo às vezes sugestões de ensinar língua de sinais a todas as crianças vindas de militantes de acessibilidade em geral
...acho isso inútil porque acaba roubando espaço de outras matérias mais "universais" e mais úteis na vida prática.
É preciso admitir e encarar que a língua de sinais serve a uma minoria de pessoas surdas que não conseguiram ou não quiseram se adaptar a aparelhos auditivos., oralização, etc. e esse direito precisa ser respeitado e garantido.
O que não se pode impor a todos os alunos ouvintes que aprendam algo que só pode servir para se comunicar com uma minoria. 
Seria útil ensinar braille a todos? Parece que não. 
Essa proposta aparece sempre feita por ouvintes que não vivenciam a surdez e não conhecem a ampla diversidade, as possibilidades de escolarização sem língua de sinais e com português pleno. Todos os surdos que nasceram surdos ou ficaram surdos na infância que eu conheço escrevem perfeitamente em português, sem as distorções dos que aprenderam a se comunicar com língua de sinais. Temos como exemplo a Anahí, a Lak...e muitos outras pessoas surdas de nascimento ou adquiridas na infância cujo domínio da língua portuguesa é claro, evidente.

O importante que que os militantes da acessibilidade saibam que os surdos usuários de língua de sinais são minoria no universo da surdez, e se o recurso é útil para essas pessoas não o rejeitamos de maneira nenhuma mas não aceitamos que seja imposto às pessoas surdas que não necessitam dele e muito menos a crianças ouvintes.

Eu geralmente não comento a acessibilidade de pessoas com outro tipo de deficiência por desconhecer mais detalhadamente o assunto, apenas repasso o que meus amigos com deficiências diferentes das minhas me repassam. Entendo que por não termos Ongs, ou institutos que divulguem nossas necessidades temos que nos explicar através de nossos blogs e de grupos de acessibilidade como este.
Que fique claro que não quero combater a língua de sinais e seus usuários, só quero deixar claro que para a grande maioria de surdos com diferentes graus de perdas auditivas e que se beneficiam com ajudas técnicas tais como aparelhos auditivos, implantes, etc a língua portuguesa é o melhor instrumento para uma vida independente.

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