REPRODUZIMOS ABAIXO O TEXTO PUBLICADO EM:
http://www.pessoacomdeficiencia.sp.gov.br/sis/lenoticia.php?id=692&c=31
CONSIDERAMOS ESTA REFLEXÃO MUITO IMPORTANTE UMA VEZ QUE MUITAS PESSOAS QUE TRABALHAM NA ÁREA DE INCLUSÃO DA PESSOA DEFICIENTE, LEGISLADORES, PROFISSIONAIS E MEIOS DE COMUNICAÇÃO REPRODUZEM UMA VISÃO FALSA DE QUE TODO SURDO SE COMUNICA USANDO LÍNGUA DE SINAIS, NO BRASIL CHAMADA LIBRAS.
O TEXTO ORIGINAL NÃO É RECENTE (2005) O QUE PROVA QUE O PROBLEMA CONTINUA EXISTINDO E QUE DEVEMOS CONSTANTEMENTE REFRESCAR A MEMÓRIA...
ANAHI GUEDES DE MELLO É UMA PESQUISADORA QUE CONHECE MUITO BEM O ASSUNTO UMA VEZ QUE É SURDA ORALIZADA E USA IMPLANTE COCLEAR.
PARA MIM É MUITO OPORTUNO REENCONTRAR ESTE TEXTO PORQUE ONTEM MESMO AO VER UM PROGRAMA DE UMA EMISSORA OFICIAL (TV CAMARA OU CONGRESSO) FIQUEI MUITO IRRITADA E ME SENTI DISCRIMINADA POR NAO TER LEGENDAS EM PORTUGUÊS, SOMENTE UMA JANELA DE LIBRAS.
As línguas de sinais são inclusivas?
O que precisamos discutir é que modelo de inclusão queremos, visto que os Surdos querem o apartheid
Anahi Guedes de Mello *
"Aceita sua sina, poeira de estrelas mortas!
Sua sina é pensar sua existência!"
Recentemente foram veiculadas notícias que nada mais mascaram explicitamente o "Nacionalismo Surdo":
Os deficientes auditivos são uma nação à parte?
http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi¶metro=15289
Americanos planejam a primeira "cidade para surdos", diz New York Times
http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI491494-EI294,00.html
Em torno do que essas notícias giram e com elas seus defensores justificam a existência de uma "Cultura Surda", com seu inescondível e fervoroso "Orgulho Surdo"? Nas línguas de sinais, quaisquer que sejam. Dizem que a língua de sinais é a língua natural dos surdos. Mas permitam-me questionar isso, porém não querendo com isso desmerecer as várias línguas de sinais no mundo inteiro, posto que eu um dia pretendo aprender uma. A pergunta maior que fica no ar é: será que as línguas de sinais são inclusivas?
Em primeiro lugar, não existe isso de uma língua de sinais ser a língua materna de todos os surdos ou pessoas com deficiência auditiva. Muito menos que ela seja "a língua natural dos surdos". Se assim o fosse, então todos os surdos, incluído eu, teríamos essa língua como regra, o que não é verdade. Pensemos bem: por que razão falamos, escrevemos e pensamos em português e não em inglês ou espanhol ou francês? O que nos fez ter o português como nossa língua materna não é o processo natural em si mas a sua aquisição cultural. Logo, língua alguma é natural, é aquisição cultural. O que é natural é a linguagem. Língua e linguagem são duas coisas completamente diferentes, isso os lingüistas sabem muito bem.
Em segundo lugar, minha pergunta baseia-se muito mais fortemente em ver a surdez como uma questão sociológica, muito mais do que a simples questão de querer enxergar a surdez, segundo alergam a corrente antropológico-cultural da surdez, como uma diferença.
Tenho observado, mesmo porque já trabalhei numa empresa de microeletrônica e portanto vi isso de perto em diversas oportunidades, que as mães de pessoas surdas não oralizadas são quem vai direto às empresas conversar com os chefes para pedir empregos para seus filhos surdos, o que assinala, a meu ver, a dependência familiar, mesmo quando se trata da vida profissional. Assim, as mães também participam como "atrizes sociais" desse processo. Essa questão é bem delicada e tem a ver com o fato do surdo não dominar a língua portuguesa oral e escrita, ficando mais restrito à língua de sinais.
Tenho também observado que a questão da escrita nestes casos tem sido um impedimento para a inserção no mercado de trabalho desses surdos, já que estes muitas vezes não a dominam também. No entanto noto que as empresas estão, na sua grande maioria, desenvolvendo cursos de Libras (língua brasileira de sinais) para facilitar a comunicação entre os empregados ouvintes e surdos, partindo de uma visão equivocada sobre as pessoas surdas.
Tenho observado também que os surdos oralizados são os que mais êxito obtêm na vida, inclusive profissional e social, embora problemas ainda existam. Os cegos há muito descobriram que saber o Braille não lhes garante um futuro profissional. Da mesma forma, os surdos saberem só língua de sinais não lhes garante isso, visto que não se podem obrigar as empresas a possuírem transcritores para Braille, muito menos forçá-las a adotar a Libras. Ora, se o cego não pode ler o que se escreve a ele e os demais não podem entender o que ele escreveu, resta-lhe o mais baixo dos mais baixos níveis de trabalhos manuais, o que dirão dos surdos?
Imagine agora que os surdos conquistem o que estão pretendendo. Sua escrita não poderá ser corrigida e, por esse motivo, ele não poderá ser reprovado. Então, quando ele se empregar, não saberá ler o que se escreve a ele, bem como ninguém entenderá o que ele escreveu. O resultado é que, perante a sociedade ouvinte que os Surdos (em "s" maiúsculo como eles fazem tanta questão, é claro) tanto "repudiam", eles serão analfabetos e, mesmo com política de cotas, será difícil empregá-los. Pior do que isso, eles pleiteiam que os pais tenham suas ausências para aprender Libras remuneradas pelo empregador, como se os pais que fossem aprender Libras ou o Braille pudessem abandonar o trabalho para isso. O resultado é que vão estender a discriminação a eles também, visto que não somente os surdos custaram mais caro, como também os familiares.
O que precisamos discutir é que modelo de inclusão queremos, visto que os Surdos querem a "Apartheid".
Eu poderia até ponderar que os argumentos desses Surdos fossem válidos se eles não passassem de sofismas. Por exemplo, o argumento de que, se o piano estiver longe do pianista, fica impossível tocá-lo, é extremamente válido mas não justifica puxar o piano ao invés de se empurrar o banquinho do pianista. O que eles querem é que a sociedade curve-se perante as particularidades dos surdos e que ela aceite que eles são uma subespécie da raça humana, cuja sociedade permeia a nossa. E permear não tem nada a ver com incluir. O que estou dizendo é que, não importando se o surdo se comunica em língua de sinais ou é oralizado, ele precisa conviver na mesma sociedade que eu ou você. Terá que assinar contratos de aluguel, ler instruções de equipamentos eletrônicos, procurar ruas nos guias e tudo o que uma pessoa comum tem que fazer para incluir-se no meio maior. Resumindo, é evidente, claro e cristalino que eu entendo que os surdos tenham dificuldades adicionais, caso contrário, a surdez não seria uma deficiência. Isso, no entanto, não implica em que os surdos não aprendam o idioma de seu país porque, independentemente da vontade do indivíduo, ou mesmo do grupo, é o idioma que rege as relações sociais em nosso país e o surdo que não o dominar corre sério risco de exclusão em diversos setores da sociedade.
Para terminar, quero alertar para a existência de um sutil apartheid entre os surdos e o resto da sociedade. Achar que resolver todos os problemas simplesmente aceitando que os surdos são diferentes do resto da sociedade como argumento é deveras sedutor, é o fim da picada, é a transcrição do "paz e amor" com anos de atraso. A questão não é o surdo ou o ouvinte, o cego ou o vidente, o cadeirante ou a pessoa que anda normalmente. A questão é a distorção do entendimento da inclusão e da guetificação. Se divergimos sobre o que é inclusão, como é que poderemos lutar por ela? Se incluir é respeitar as diferenças e manter cada um em um grupo fechado, então deveremos tomar um caminho. Por outro lado, se incluir é, respeitando-se as diferenças, criar meios de convivência, então o caminho deverá ser outro. Mesmo no mundo do trabalho. Nunca se esqueçam - nunca mesmo - de que o argumento da África do Sul para implantar o apartheid foi justamente o de que os negros eram diferentes dos brancos e que, respeitando-se as diferenças, o desenvolvimento deveria ocorrer paralelamente e não em conjunto. Assim, qualquer semelhança entre esses casos reais terá sido mera coincidência.
Florianópolis, abril de 2005. Agradecimento especial a Luiz Alberto M. de Carvalho e Silva.
* Membro-integrante do grupo de pesquisa em Acessibilidade & Tecnologias do Laboratório de Experimentação Remota da Universidade Federal de Santa Catarina (RExLab/UFSC) e presidente do Centro de Vida Independente de Florianópolis (CVI-Floripa),
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