sábado, 23 de maio de 2009

Deficientes auditivos - Censo de 2000

Pesquisando nos arquivos:



http://www.bengalalegal.com/censos

Encontramos este texto de análise dos censos feitos no Brasil que é muito elucidativo.

População com Deficiência: Os Censos e seus Critérios no Brasil.

Flavia Maria de Paiva Vital.

O Censo Através da História.

No Brasil, as pesquisas demográficas desde o ano de 1872 incluem informações sobre deficiência. Estas pesquisas refletiam a visão que deficiência se define por um conjunto específico de defeitos corporais.
No censo de 1920, a pesquisa no Brasil acrescentou as categorias mentais do Congresso de Londres, que se manterão, em determinada medida, até o Censo de 1940, segundo uma tendência internacional vinculada às dificuldades de recolher-se com precisão a informação sobre deficiência, então nomeada como espécie de demência (idiotismo, cretinismo e alienação mental).
A partir dos anos 80, o tema da deficiência ocupa mais espaço nas grandes investigações domiciliares brasileiras, em vista de uma crescente estruturação dos movimentos e das organizações "de" e "para" pessoas com deficiência. Mesmo assim, somente as perguntas que se referem à deficiência física e/ou mental são obrigatórias por lei (Lei nº. 7.853/1989). Dessa forma, ainda deixaram que inúmeras deficiências se reunissem apenas nesses dois grupos.
O Censo de 2000 e o Modelo Social.
Ultimamente há uma tendência de incluir a deficiência a partir do modelo social. Os dados oficiais de deficiência coletados no Censo de 2000, seguiram a orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que em seu questionário amostral, utiliza um critério baseado em dois esquemas distintos: o primeiro, formado a partir de um modelo centrado nas características corporais, como no Censo de 1991 e pesquisas anteriores; o segundo, montado sobre uma escala de gradação de dificuldades na realização de tarefas pelo indivíduo. A captação de dados, assim, evolui, em sua concepção, para uma semelhança com outros instrumentos de pesquisas mais modernos utilizados atualmente.
Com isso o Censo 2000 garantiu um grau aceitável de comparabilidade com o de 1991, ao mesmo tempo em que marcou uma transição para uma nova forma de registrar informações sobre a deficiência no país. As perguntas levaram em conta a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), Deficiência e Saúde da OMS, com um foco em atividade. Embora seja possível e importante continuar a melhorar a coleta das informações sobre deficiência no país, é preciso dizer que o progresso já foi muito grande.
Segundo o Censo de 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem na população brasileira cerca de 24.600.256 de pessoas com algum tipo de deficiência. Este é o último dado oficial levantado. Ele corresponde a 14.5% da população. Houve, nos últimos anos, entre os Censos de 1991 e o de 2000, um aumento maior que 13 pontos percentuais no número de pessoas com deficiência no Brasil, que era de 1.41% da população total.
Fatores Importantes para o Aumento da População com Deficiência.
Segundo a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o número das pessoas com deficiência de fato tem aumentado. "(...) O sistema social, econômico e político injusto é o grande responsável pelo aumento das deficiências: a fome que produz o nanismo; os danos cerebrais irreversíveis; a medicação e as cirurgias sem escrúpulos; os erros médicos; a desinformação sobre a prevenção de doenças; a precária situação do sistema de saúde pública e de assistência social; a falta de centros de orientação e de reabilitação; a mercantilização da doença em detrimento dos serviços de higiene e saneamento básico; os acidentes de trabalho e trânsito; a irresponsabilidade dos serviços de segurança pública (policia); o álcool; as drogas; os assaltos; a violência em geral; resultado das frustrações da vida são co-produtores permanentes de deficiências. A estrutura social desigual tem produzido também deficientes pelas violências morais e psíquicas que atentam contra a integridade da pessoa, contra sua identidade, contra sua segurança e estabilidade: pelas expulsões da terra, insalubridade, barreiras arquitetônicas, rotação de mão de obra, tratamento desumano, violação da consciência e a falta de cuidado com os mais pobres (...)".
Conclusão.
A principal razão para o grande aumento no número de pessoas com deficiência é a alteração dos instrumentos de coleta de informações, incluindo o modelo social. Por outro lado, a população com deficiência no Brasil tem crescido em decorrência do aumento na expectativa de vida da população, aliado ao também aumento da violência urbana (assaltos, violência no trânsito, entre outros motivos), alterando paulatinamente o perfil desta população que, anteriormente, era o de deficiências geradas por doenças.


Censo IBGE 2000 - População com Alguma Deficiência.

Mental: 2.848.684

Física:
- Tetraplegia, paraplegia ou hemiplegia : 955.287
- Falta de membro ou de parte dele: 466.936
TOTAL: 1.422.223

Motora:- Incapaz de caminhar ou subir escada: 588.201
- Grande dificuldade permanente de caminhar ou subir escada: 1.799.917
- Alguma dificuldade permanente de caminhar ou subir escada: 5.491.482
TOTAL: 7.879.600


Auditiva:
- Incapaz de ouvir: 176.067
-Grande dificuldade permanente de ouvir: 860.889
- Alguma dificuldade permanente de ouvir: 4.713.854
TOTAL: 5.750.810


Visual:- Incapaz de enxergar: 159.824
- Grande dificuldade permanente de enxergar: 2.398.472
- Alguma dificuldade permanente de enxergar: 14.015.641
TOTAL: 16.573.937


Há algum tempo eu procurava estes dados em que a diversidade dentro da deficiência estivesse quantificada para que nos fosse permitido dirigir nossas reivindicações de ajudas técnicas de um modo mais objetivo.

Sempre que se fala em surdez os representantes de entidades citam números globais em que não podemos distinguir os diferentes tipos de surdez que requerem diferentes tratamentos e medidas de inclusão.

Gostaria de saber quantos surdos usam Libras, quantos usam prótese auditivas, quantos são oralizados, quantos usam implantes, quantos usam leitura labial.
Infelizmente os números globais acabam mascarando nossa diversidade e quando se trata do assunto surdez a maioria das pessoas imagina que surdos são os que não ouvem nada ou quase nada e se comunicam exclusivamente usando língua de sinais (no Brasil se chama libras).

Em eventos ou lugares públicos é comum oferecerem intérpretes de libras a surdos que não fazem uso desse meio de comunicação. Já aconteceu comigo e com vários SULP.

Com os dados do Censo de 2000 já podemos raciocinar de outra maneira, são dados ultrapassados mas já é um começo

2 comentários:

Equipe Construindo Saberes disse...

Muito informativo o seu blog, me interesso muito sobre a cultura dos surdos, continuem sempre assim atuantes, sou ouvinte mas um dia- estou timidamente me preparando- quero fazer parte dessa cultura. Um abraço, Carol Modesto. Salvador- Bahia.

soramires disse...

Obrigada pela leitura do nosso blog e seu comentário. Somente um esclarecimento, não nos consideramos participantes da chamada cultura dos surdos, participamos da sociedade em geral usando equipamentos que nos ajudam a ouvir.

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